Filemom: os resultados que o evangelho produz em nós

 


A carta de Filemom, apesar de pequena em tamanho, é profunda em seu conteúdo. Foi escrita pelo apóstolo Paulo por volta do ano 62 d.C, quando estava preso em Roma, para um colaborador muito estimado por ele, Filemom. Conforme suas próprias palavras:

 

“Tenho ouvido falar da fé que você tem no Senhor Jesus e do seu amor por todos os santos. Oro para que a comunhão da sua fé se torne eficaz no pleno conhecimento de todo o bem que há em nós, para com Cristo. Pois, irmão, o seu amor me trouxe grande alegria e consolo, visto que o coração dos santos tem sido reanimado por você.” (vs. 5-7)

 

Filemom fazia jus ao seu nome, “gentil”, “afeiçoado”. Ele era alguém sensível às necessidades dos santos, com um coração enorme e cheio de amor. Era típico de Filemom ser gentil, inclusive, ele se mostrou muito importante em alguns momentos para a vida do próprio apóstolo Paulo, pois é chamado por ele de “companheiro de lutas” ou de “amado colaborador”, conforme algumas traduções apontam.

 

Filemom era assim porque o evangelho havia o alcançado e transformado a sua vida. Ele estendia, então, o amor e graça que recebera do Senhor Jesus. E agora, Paulo ora para que essa fé que eles tinham em comum gerasse em Filemom a clara compreensão de todo o bem que há em nós por meio de Cristo, ou seja, as bênçãos espirituais que nos foram outorgadas por Seu intermédio. E quais seriam as maneiras que Filemom teria para atestar essa compreensão? Através do pedido que vem a seguir. Observemos:

 

“Faço um pedido em favor de meu filho Onésimo, que gerei entre algemas.” (v. 10)

 

Onésimo era um escravo fugitivo de Filemom, que lhe trouxe danos irreparáveis. Muito provavelmente, havia o roubado e agora se encontrava em Roma, preso. Foi quando, pela providência divina, se encontrou com o apóstolo Paulo, que sem demora o evangelizou, e assim ele se converteu ao evangelho. Perceba que era o mesmo evangelho que havia convertido Filemom, e que também nos foi pregado um dia, pelo qual cremos que somos salvos. Paulo entendia que diante de Deus não há acepção de pessoas, em Cristo não há mais escravo ou livre, todos somos um Nele (Gl 3:28) e que o evangelho tem o poder de alcançar qualquer pessoa e de perdoar qualquer pecado.

 

Então ele pede para que Filemom aceite Onésimo de volta, não somente como um escravo, mas como um irmão amado em Cristo. Embora Paulo pudesse lhe impor alguma coisa, decidiu rogar em nome do amor, através de uma súplica marcada com profunda emoção, que revela a humildade e amor que o velho prisioneiro no Senhor possuía. Ele diz que iria enviar com Onésimo o seu próprio coração (v. 12) e que Filemom o recebesse como se estivesse recebendo ele mesmo. E ainda, que se o considerava um companheiro da fé, que aceitasse ele de volta (v.17), e quanto aos possíveis prejuízos, podia colocar em sua conta (v.18).

 

Lendo essa carta, talvez pensemos que era impossível Filemom não aceitar Onésimo de volta, tratando-lhe com bondade. Todavia, isso era algo totalmente contraditório em seu tempo, visto que haviam leis muito severas para os escravos rebeldes. No mínimo, diante dessa situação, Onésimo deveria ser castigado sem dó e podia ser até morto se assim Filemom o quisesse. Mas, Paulo suplica que Filemom agisse diferente à expectativa da sociedade, estendendo mais uma vez do amor que possuía em Cristo.

 

Muitas vezes, o evangelho se mostrará paradoxal aos padrões deste mundo, e nessas situações desafiadoras, precisaremos agir de acordo com o que cremos. Só quem foi traído é que entende a dificuldade que envolve aceitar alguém de volta com amor e perdão. Era esse o desafio de Filemom, que vez ou outra, pode ser o nosso também. Certa vez eu li: “Todos dizem que o perdão é uma ideia maravilhosa até que elas tenham algo para perdoar” (C.S.Lewis). Perdoar pode não ser fácil, mas sempre será necessário. Essa é uma das marcas pela qual evidenciamos que somos cristãos. Só quem foi perdoado é que possui a capacidade de perdoar alguém sem querer nada em troca, em nome do amor. Perdoamos, não porque somos bonzinhos, mas porque o evangelho nos capacita para isso. Logo, não conseguimos perdoar com as nossas próprias forças, mas com a força que o Senhor nos dá.

 

“O mundo ergue muralhas entre as pessoas, mas Jesus destrói esses muros.”¹

 

Em Cristo, conhecemos de fato o que é o amor. Por isso, podemos amar a todos sem distinção. Segundo Lutero, todos nós fomos Onésimo algum dia, visto que éramos escravos do pecado.

 

“Todos nós andávamos errantes [...] Nossa salvação não é resultado do nosso mérito, mas pura expressão da graça.”¹

 

Não concedemos algo que não tenhamos primeiramente recebido. É como a parábola do credor incompassivo que o Senhor Jesus contou certa vez, conforme relata Mateus 18:23-35. Tínhamos uma dívida impagável para com o Senhor, e estávamos condenados para sempre. Mas, por sua bondade, Ele nos perdoou e agora espera que perdoemos uns aos outros, cuja dívida será sempre infinitamente menor que a que tínhamos com Ele.

 

Quais têm sido as oportunidades que o Senhor tem te dado de expressar bondade e misericórdia com o próximo? Será que você tem enxergado dessa forma, como uma oportunidade de ser como seu Senhor? Embora reconheçamos que não seja fácil, precisamos não apenas ser receptores, mas transmissores do perdão, pois assim é o nosso Deus, Ele nos perdoa todos os dias mesmo sem merecermos. Todas as vezes que agimos de acordo com as Suas orientações, e não de acordo com a nossa vontade ou a expectativa deste presente século, estamos gerando um testemunho pelo qual pessoas poderão crer em seu poder, através desse evangelho que transforma vidas ainda hoje, para a glória do próprio Perdoador por excelência.

 

Thayse Fernandes

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¹ LOPES, Hernandes Dias. Tito e Filemom: doutrina e vida, um binômio inseparável. São Paulo: Hagnos, 2009.

 


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