[Série: De Nínive a nós: a mensagem do Deus Misericordioso] - Jonas 1

 




Antes de ler esse texto, guarde uma certeza no seu coração: Deus é soberano. Seus juízos são insondáveis, e os Seus caminhos, inescrutáveis. Ele é o Senhor da história. E por mais que, ocasionalmente, isso nos desconcerte, o fato é: Ele faz o que quer, com quem quer, onde quiser. E, às vezes, Ele nos coloca em situações tão desconfortáveis que tudo o que conseguimos pensar é: "Por que eu? Por que agora? Por que lá?"

 

Imaginemos que Deus chamasse você para pregar em um lugar cujos habitantes são conhecidos por sua crueldade, implacabilidade e sede de destruição. “Um povo que vivia de saques e orgulhava-se dos montes de cabeças humanas trazidas das violentas batalhas e as empilhava no centro da cidade como troféus. Prisioneiros de guerra eram crucificados, tinham os olhos arrancados e a pele dilacerada enquanto ainda estavam vivos.”

 

Esse lugar existiu. Nínive — a capital da Assíria —, um território vasto (a Bíblia faz questão de chamá-la de “grande cidade” três vezes — Jonas 1:2; 3:2; 4:11) — era famosa por sua violência e corrupção. Tamanha era a sua maldade que transbordou os limites da terra e chegou diante do trono de Deus.

 

Agora pense: se Deus enviasse você justamente para lá, com a missão de anunciar a Sua palavra — e sua mensagem fosse muito curta, diga-se de passagem… Apenas cinco palavras, como aconteceu com o profeta Jonas, qual seria a sua reação? Com o seu senso de justiça, você diria, sem hesitar: "Eu vou!”. Ou, honestamente, concluiria que um lugar assim não merece sequer uma chance de salvação?

 

Essa é exatamente a situação que o profeta enfrentou. E a forma como ele reagiu — e as consequências dessa escolha — nos ensinam muito mais do que imaginamos. A história de Jonas é muito conhecida no nosso meio, pois não tem como esquecer o fato de um homem ter sido engolido por um enorme animal marinho e ter permanecido três dias em seu ventre.

 

Podemos pensar que ele ou o próprio grande peixe seriam os personagens principais dessa história, mas não, não são. O pastor Hernandes Dias Lopes faz alguns questionamentos pertinentes: “Quem envia uma tempestade atrás de Jonas? Quem acalmou o mar quando Jonas foi lançado para fora do navio? Quem deu ordem a um peixe e este engoliu Jonas? Quem preservou Jonas três dias no ventre do peixe? Quem deu ordem ao peixe para vomitar Jonas? Quem fez o povo ninivita se quebrantar oferecendo misericórdia? Quem fez brotar uma planta para trazer sombra ao profeta?”  Perguntas como essas nos fazem entender que Deus é o protagonista dessa história.

 

Mas, afinal, quem era Jonas? Um homem que profetizou durante o reinado de Jeroboão II (2 Reis 14:23-25) e era filho de Amitai. Vamos relembrar o contexto do livro que leva o nome desse profeta. O Senhor chama Jonas para ir a Nínive, advertir aquele povo sobre sua maldade e proclamar que o juízo divino estava próximo, oferecendo-lhes uma oportunidade de arrependimento. Afinal, ele era um profeta e, portanto, deveria cumprir o seu papel como porta-voz da palavra de Deus. Ao nosso ver, seria até compreensível que Jonas não quisesse obedecer. Nínive era uma nação inimiga de Israel, responsável por sofrimento, humilhação e violência contra o povo hebreu. Quem, em sã consciência, desejaria ver um inimigo desses recebendo misericórdia? Mas, mais uma vez, os pensamentos de Deus não são como os nossos — e a Sua graça alcança até onde o nosso senso de justiça se recusa a chegar.

 

O profeta simplesmente não conseguia aceitar que um povo tão cruel pudesse ser alvo da graça divina. Aquilo o desestabilizou. Ele conhecia o Deus a quem servia e, no fundo, temia exatamente isso: que o Senhor perdoasse os arrependidos, ainda que fossem inimigos de Israel. Jonas entrou em crise e, sejamos sinceras, quem nunca entrou? Quantas vezes também questionamos as decisões de Deus, especialmente quando Ele age de maneira diferente daquilo que julgamos justo? É mais fácil aceitar a misericórdia quando ela nos alcança — mas quando ela se estende a quem, aos nossos olhos, “não merece”, nossa humanidade se revela.

 

No versículo 3, lemos que “Jonas se dispôs” — mas não para obedecer ao chamado, e sim para fugir da presença do Senhor. Seu destino? Társis, uma cidade fundada pelos fenícios, localizada na região mais remota conhecida na época, na direção totalmente oposta a Nínive. Porém, algo acontece no meio do caminho que impede o profeta de chegar ao seu objetivo. Afinal, ninguém consegue escapar dos planos e do chamado de Deus.

 

Uma grande tempestade se levanta no mar, e o navio em que ele viajava fica a ponto de se despedaçar. Imaginemos a cena: uma tempestade violenta, o barco quase afundando, os marinheiros desesperados, lançando as cargas ao mar, clamando cada um ao seu deus, enquanto Jonas, indiferente e apático, dormia profundamente no porão. Até que o mestre do navio o encontra e o questiona.

 

Em meio ao desespero, aqueles marinheiros lançaram sortes. No contexto bíblico, "lançar sortes" era uma prática comum usada para tomar decisões ou descobrir algo oculto, como identificar o responsável por uma situação. Eles usaram um método de sorteio — como dados, pedras, pedaços de madeira ou outro objeto — para tentar descobrir o culpado pela tempestade. E a sorte caiu sobre Jonas.

 

Agora já sabiam que a culpa de tudo aquilo era dele e começaram a interrogá-lo: “Que ocupação é a tua?”, “Donde vens?”, “Qual a tua terra?”, “De que povo és tu?”. Ele se identifica como hebreu, aquele que teme ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra. E, no versículo 12, diz: “Tomai-me e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará, porque eu sei que, por minha causa, vos sobreveio esta grande tempestade.”

 

Ao lançarem Jonas às águas, a fúria da tempestade cessou, e o Senhor enviou um enorme peixe, que o tragou. Ali, o profeta permaneceu três dias e três noites no ventre do animal.

 

O QUE APRENDEMOS COM O CAPÍTULO 1 DE JONAS?


Ninguém foge dos planos de Deus;

Deus nos envia onde, muitas vezes, não queremos estar;

Nosso senso de justiça não é o de Deus;

A desobediência gera consequências;

Deus usa crises para nos despertar;

Crises expõem nossa humanidade e fragilidade;

Deus pode usar o improvável para cumprir Seus planos;

A misericórdia de Deus alcança até quem, aos nossos olhos, não merece;

         

O capítulo 1 do livro de Jonas não é apenas sobre um profeta fujão, uma tempestade ou um grande peixe. É, sobretudo, sobre um Deus que governa a história e que não desiste nem dos rebeldes, nem dos perversos. É sobre um Deus que vai até os confins da terra, ou do mar, para alinhar seus filhos ao Seu propósito e que, ao mesmo tempo, estende a oferta de arrependimento até àqueles que o mundo já desistiu.

 

Jonas fugiu porque não entendia e não aceitava o tamanho da misericórdia de Deus. E, honestamente, muitas vezes fazemos o mesmo. Questionamos, resistimos, queremos limitar a graça ao nosso senso de merecimento. Mas Deus nos ensina que Seu amor e Sua compaixão vão além do que podemos compreender.

 

De Nínive a nós, a mensagem é clara: ninguém está tão longe que Deus não alcance, “não há abismo que Sua mão não possa alcançar, Ele arranca pecados, encontra o perdido, traz cura ao coração ferido!” .

 

Deus te abençoe!

 

Sara Abdala


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