[Série: De Nínive a nós: a mensagem do Deus Misericordioso] - Jonas 4


O Senhor é bom. Essas simples palavras expressam uma verdade que ecoa desde a Eternidade e que, por graça, um dia também ecoou em nosso coração. Quando assistimos ao nascer de um novo dia, ou olhamos bem fundo nos olhos de uma criança pequena, ao sentir o sopro do vento em nosso rosto, ou quando, maravilhadas, percebemos o Espírito transformando o nosso coração e o coração de pessoas que antes também vagavam distante de Deus, em tudo isso, provamos e vemos que Ele é bom. Jonas também pôde contemplar com os próprios olhos tal verdade.

 

Jonas sabia que Deus é bom. Isso revela que o profeta cria em seu coração que o Senhor é bondoso e compassivo (Jonas 4:2). Mas, a fuga de Jonas foi provocada pela sua total oposição aos planos de Deus. O plano do Senhor para a nação de Nínive era repleto de misericórdia, bondade, graça e amor. Como já sabemos, a pregação de Jonas contra aquela nação redundou em arrependimento e salvação (Jonas 3). E tudo isso era o que o profeta menos queria. Nem sempre os planos do Senhor nos agradam. Muitas vezes, a maneira que Deus escolhe para expressar a sua bondade e amor nos assusta o coração, provoca-nos, traz incômodo e mostra que precisamos Dele.

 

Acredito que você, pelo menos uma vez na sua vida, já decidiu entrar em uma espécie de “cabo de guerra” contra a vontade de Deus. Sabe aquela sensação de quando pensamos que sabemos mais do que o Senhor? Quando fechamos o nosso coração para o que Deus está realizando? Ou ainda, quando não aceitamos o amor e a bondade de Deus sendo expressos à Sua maneira e não segundo os nossos argumentos racionais, mundanos, egoístas e céticos? A sensação é de que estamos sendo feridos e destronados. No capítulo 4, o profeta tinha acabado de ver algo que não acontece todo dia. Uma nação inteira rendida aos pés do Senhor, mas nada daquilo cabia nos planos dele. Deus havia feito algo inconcebível aos olhos de Jonas. Deus amou, Jonas não. Deus perdoou, Jonas não o fez. O Senhor se encheu de compaixão e Jonas se esvaziou dela.

 

Cheio de compaixão, Deus restaurou Nínive, mas o profeta enviado pelo Senhor não seguiu o seu modelo. Anos mais tarde, o próprio Deus encarnado andaria pelas ruas de várias cidades e povoados e demonstraria mais uma vez a sua bondade, misericórdia, graça, amor e compaixão. Nós, que somos discípulas e também comissionadas e enviadas por Ele, possuímos um coração semelhante ao Dele?

 

“O meu mandamento é este: que vocês amem uns aos outros, assim como eu os amei.” (João 15:12).

 

“Nisto todos conhecerão que vocês são meus discípulos: se tiverem amor uns aos outros.” (João 13:35).

 

“Vocês ouviram o que foi dito: Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo. Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para demonstrarem que são filhos do Pai de vocês, que está nos céus.” (Mateus 5:43-45)

 

Muitas vezes questionamos e até julgamos a conduta de Jonas, mas esquecemos que o nosso coração pode não ser tão diferente do dele. Somos tardias em nos encher de compaixão, principalmente quando o alvo dela não é alguém que segue a nossa listinha do que é ser bom, justo e digno de amor. Também nos enchemos de argumentos quando não concordamos com os planos de Deus e quando percebemos que a bondade e compaixão Dele serão expressos de maneiras que irão divergir com o que acreditamos ser melhor ou mais justo.

 

Jonas nos ensina que precisamos do Senhor. Precisamos que Ele continue nos mostrando quão belos são os seus desígnios. Que Deus nos faça recordar continuamente que Ele é o nosso modelo de bondade e compaixão, e que o seu Santo Espírito nos encha disso para a sua glória. O profeta teve uma excelente oportunidade de participar de um grande feito do Senhor, expressando junto com Ele amor, bondade, misericórdia, compaixão e perdão, contudo, se opôs aos sentimentos de Deus e a obra que Ele estava realizando. A minha oração, e espero que também seja a sua, é que Deus, por meio do seu Espírito, ajude-nos a obedecer e participar de sua grande e perfeita obra com o coração cheio Dele, alegrando-nos em Sua vontade e em Seus meios de expressar quem Ele é.


“O livro de Jonas termina com uma pergunta. Não sabemos se Jonas se arrependeu ou se permaneceu rebelde. Não sabemos se sua ira cessou de arder ou se ele continuou amargo o restante da sua vida. Contudo, esse livro não está inconcluso. Jonas não respondeu, porque essa resposta não deveria ser dada apenas por ele. Jonas não está 2.700 anos distante de nós. Ele está dentro de nós. Jonas mora debaixo da nossa pele. O coração de Jonas bate em nosso próprio peito. O sangue de Jonas corre em nossas próprias veias. Sentimos compaixão por aqueles a quem Deus ama? Temos disposição de levar a Palavra para aqueles por quem Cristo morreu? O nosso coração se quebranta pelas mesmas causas que tocam o coração de Deus?”¹

 

Hellen Juliane

 

1 LOPES, Hernandes Dias. Jonas: um homem que preferiu morrer a obedecer a Deus. São Paulo: Hagnos, 2008.


Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.