[Série: As marcas da família de Deus] - Perdão


Já vimos que a família de Deus carrega consigo marcas singulares, que a distinguem de todas as demais: a comunhão, o serviço e o amor são reflexos vivos da identidade dos filhos que servem e adoram ao mesmo pai. Agora acrescentaremos mais uma marca: o perdão.

 

“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará.” (Mt. 6:14)

 

Na oração dominical (Mt.6: 9-15), Cristo instrui seus discípulos sobre como orar. Ele ressalta que a verdadeira oração não deve ser exibida em público, como faziam os hipócritas (iam às praças e sinagogas para serem notados), nem marcada por repetições vazias, como praticavam os gentios. Em vez disso, a verdadeira oração deve acontecer em intimidade, no secreto do quarto.

 

Dentro desta instrução sobre a verdadeira oração, Cristo não apenas mostra a forma correta de se dirigir a Deus, mas também enfatiza princípios essenciais que devem nortear a vida do discípulo. Entre eles, destaca-se o perdão: na oração dominical, o ato de pedir perdão a Deus está diretamente relacionado à disposição de perdoar o próximo. Assim, Jesus deixa claro que a comunhão com o Pai está inseparavelmente ligada à prática do perdão.

 

Não há como manter comunhão com Deus enquanto o coração estiver preso ao pecado, alimentando mágoa, rancor ou ódio contra o nosso irmão. Tais sentimentos levantam barreiras entre nós e o Pai, impedindo que vivamos a plenitude da graça que Ele deseja nos conceder.

 

Quando falamos em perdão, logo pensamos no quanto é difícil praticá-lo. Afinal, muitas vezes fomos nós as feridas, ofendidas e injustiçadas. É comum sentirmos que temos razão e, por isso, acabamos carregando o peso dessas mágoas no coração. Mas esse fardo não apenas nos aprisiona, como também adoece a nossa alma ao longo do tempo. A palavra de Deus, porém, nos chama hoje com firmeza e amor: PERDOE! Talvez você esteja dizendo: “Você não sabe o que eu vivi…”, “Eu não consigo…”, “Não tenho forças…”.

 

A verdade é que por nós mesmas não conseguimos. Mas há um caminho a ser trilhado, o da oração. Entra no teu quarto e, fecha a porta, ora ao teu Pai, que está em secreto; e Ele, que vê em secreto, te recompensará. É neste momento que você deve abrir o seu coração reconhecendo as suas limitações, sua fraqueza, é neste momento que deves pedir ao Senhor que encha o seu coração com a convicção de que, da mesma forma que você já recebeu o perdão d’Ele, também é capaz de perdoar quem a feriu. E isso não é um ato isolado, mas um exercício diário, que precisa ser repetido quantas vezes forem necessárias.

 

Em Mt. 18:21 lemos que Pedro pergunta a Jesus quantas vezes deve perdoar o irmão que pecou contra ele, e questiona “apenas sete vezes?” (afinal os rabinos ensinavam que era suficiente perdoar apenas três vezes), porém Cristo responde que se for preciso deveria perdoar até setenta vezes sete, aqui o Senhor mostra que não há limites, o verdadeiro perdão não está condicionado a números, ele não deve ser quantitativo, pois aqueles que nasceram de novo trazem em si as marcas da comunhão, do serviço, do amor e, consequentemente, do perdão, refletindo e espalhando essas virtudes sem limites.

 

Agora, consideremos a situação oposta: quando não fomos nós as ofendidas, mas sim aquelas que feriram, que agiram de forma errada. É preciso compreender que, como membros da família de Deus, somos chamadas também a pedir perdão. O apóstolo Paulo, em sua carta a Filemom, intercede para que ele receba Onésimo não mais como escravo, mas como irmão em Cristo. Essa reconciliação só foi possível porque Onésimo reconheceu sua falha e buscou perdão, e Filemom o perdoou, não por ser “bonzinho” ou superior, mas porque entendeu, à luz do evangelho, o quanto ele mesmo já havia sido perdoado por Cristo.

 

Da mesma forma é com cada uma de nós, reconhecer os nossos erros e pedir perdão é um ato de humildade, obediência a Deus e maturidade espiritual.

 

Que a nossa oração seja: Senhor, assim como fui alcançada pelo teu perdão, ajuda-me a perdoar aqueles que me ofendem, que se levantam contra mim e que não desejam o meu bem. Que eu viva o perdão não apenas em palavras, mas em atitudes, pois essa é uma marca dos que pertencem à Tua família. “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Sl 51:10), para que assim eu possa refletir o Teu amor, andar em comunhão contigo, com o meu irmão e testemunhar, através da minha vida, a graça transformadora do evangelho. Amém!

 

Deus abençoe.

Com amor, Sara Abdala.


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